A MUSICALIZAÇÃO DOS BLOCOS TRADICIONAIS Henrique Machado*
Atualmente venho acompanhando um dos pontos de grande discussão que estão sendo travado pelos amantes dos blocos tradicionais: a utilização de outros instrumentos que não sejam os contratempos, retintas, marcações, ganzás, agogôs e reco-recos nos desfiles e apresentações. A corrente mais tradicional, onde destaco aqui a Casa dos Blocos Tradicionais que está coordenando o processo de Inventario Nacional de Referências Culturais dos nossos blocos de ritmo, demonstra claramente ser a favor da não utilização de qualquer outro instrumento que não sejam os tradicionais. Alegam que o uso de cordas abafa o som das batucadas, pois são ligados no serviço de som e até parece que os cantores e “instrumentos estranhos” são o show e não a batucada que são jogadas para um último plano como se não fosse ela a grande estrela dos Blocos Tradicionais. Um renomado músico, diretor de teatro, produtor cultural, compositor e figura ativa dentro dos blocos tradicionais questionado por importante jornalista da nossa cidade sobre a manutenção das cordas e de outros instrumentos afirmou: "Essa rapaziada não está nem aí, querem só a graninha e tirar isso deles vai ser uma guerra. Sabias que os blocos gastam algo em torno de 30% do recebido do erário somente com músicos e cantores?” Por outro lado tem a grande maioria de “donos de bloco”, componentes, compositores, músicos e simpatizantes, nessa ala me incluo, que defende a manutenção das cordas e a inclusão de outros instrumentos dentro das apresentações e desfiles alegando que enriquece o desfile, melhora a harmonia e ajuda os cantores a “firmar o canto”. Concordo em parte com a ala mais tradicional quando diz que a batucada esta abafada pelo sistema de som, mas claro a culpa e das brincadeiras que diminuíram o tamanho dos seus contratempos e da Prefeitura de São Luis junto com as entidades representativas que insistem em realizar os desfiles oficiais dos blocos no ambiente aberto da “Passarela do Samba” no Anel Viário, bem diferente da acústica das ruas estreitas e cercadas de casarões e sobrados, sem oferecer a devida sonorização para as brincadeiras. Inconcebível que na evolução tecnológica que presenciamos com o aparecimento a cada dia de sistemas de som digitais cada vez mais modernos a empresa prestadora desse serviço para o Carnaval não ofereça ao desfile os microfones necessários para captar o som da batucadas. Como ficam horríveis os nossos cantores se esgoelando e brigando com as cordas, quer sentir o que e isso escute a transmissão ao vivo do desfile pela radio, que tristeza. O uso de “instrumentos estranhos” nos blocos tradicionais não e tão novo assim o Vira-Latas tinha os seus músicos, como afirmou Vera Cruz Marques na entrevista publicada nessa coluna na semana passada. Mestre Mascote fundador de “Os Lunáticos” tocava seu violão de sete-cordas, como me foi confidenciado pelo mesmo em longas conversas que tivemos em sua casa na Vila Passos em 1993, quando tentei retornar “Os Lunáticos” como parte de um projeto social com os meninos em situação de risco social abrigados na “Casa do Papai” na Avenida Beira-Mar. Projeto esse que teve o incentivo apenas do Bloco Os Vigaristas, que se encontrava sediado no Laborarte, que cedia seus instrumentos para que os “meninos de rua” pudessem aprender a nossa batucada 3x2, durante o dia. Pena que o projeto não foi para frente, pois não tinha apoio financeiro e já estava cansado de escutar: “Se for para fazer um bloco de pessoas normais estou dentro, eu banco, não vou investir em bloco de marginais”. Claro que o uso dos “instrumentos estranhos” ganhou força entre 70 e 80 com a cariocarização do carnaval maranhense, tendo sua banalização na década de 90 com o surgimento do “Bicho Terra”, com suas cordas e metais, e com a invasão dos blocos de trio baianos. Reafirmo aqui não sou contra a utilização de cordas, sanfonas, pratos, ou qualquer outro instrumento de percussão, desde que:
ü Os músicos que forem contratados ou que estejam dispostos a tocar ensaiem junto com a batucada, vivam a sua harmonia e não apareçam apenas na hora do desfile e depois se vão, pois tem que tocar em quatro cinco blocos; desde que boa parte do dinheiro do bloco que sabemos ser tão pouco não vai parar no bolso de quatro ou cinco pessoas;
ü Os blocos tenham suas batucadas devidamente microfonadas e com um projeto de sonorização testado anteriormente em passagens de som nos ensaios técnicos como nos Desfiles das Escolas de Samba, que pretendemos copiar;
ü Não acelerem o ritmo e acima de tudo não incluam instrumentos de sopro e elétricos, transformando os blocos em bandas.
Precisamos realmente discutir seriamente a questão da musicalização dos nossos blocos de batucada, para mim o problema não reside no uso dos tais “instrumentos estranhos” que descaracterizam os nossos blocos, mas a forma como estão sendo utilizados e como os blocos estão oferecendo ao publico e as novas gerações o seu trabalho musical.
(*) Henrique Machado reside em Brasília e é colaborador fixo no Blog. . |
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