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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

05.02-016


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Coluna do Machado



O Jubileu de Prata dos Vira Latas
e sua preocupação com o social

O ex-deputado estadual, cassado pela ditadura militar, Vera Cruz Marques deu seu depoimento em entrevista para o jornal Suplemento Cultural do Sioge, em 1994 sobre a memória do Carnaval de Rua no Maranhão, que aqui reproduzo em parte como importante documento e ressalto a sua afirmação de que os dias de hoje são outros e São Luís já não comporta blocos como o “Vira– Lata” que comemorou seus 25 anos com um grande baile filantrópico no Teatro Artur Azevedo.

Como o Sr vê o carnaval do passado?
 Vera Cruz
O carnaval do passado era uma manifestação autentica em que o povo, fundamentalmente, era a figura central, porque era ele quem fazia a festa e era ele quem dela se beneficiava. Era uma participação direta e efetiva, sem personalismos e pretensões de projeções individuais. Havia muita espontaneidade e o povo brincava o carnaval de rua, que era o ponto alto do carnaval maranhense, sem a sofisticação dos dias de hoje, em que existe a pretensão de se querer imitar o carnaval carioca, que também já é uma deturpação do carnaval passado.
 O povo não mais participa do carnaval como antigamente?
 Vera Cruz
O povo participa, mas não é dele a iniciativa, a criatividade. Ele segue o rumo traçado por aqueles que se intitulam incentivadores do carnaval. A muitos deles não se lhes nega boa vontade, bons propósitos, porém, muitas vezes terminam deturpando essa festa eminentemente popular, tirando-lhe as características naturais.
 De que maneira foi o seu envolvimento nos carnavais?

Vera Cruz
Minha participação foi muito ativa desde o começo da minha juventude. Inicialmente fiz parte do bloco “Oba”, um dos blocos tradicionais da terra, fundado por Nazar e com fantasia de corsários. O “Oba” era uma das grandes atrações com outros blocos, como o ‘Vira–Lata’, “Os Sentenciados”, etc. Com a extinção do ‘Oba’, eu me integrei ao “Vira-Lata’”e o fiz até o encerramento de suas atividades. O “Vira-Lata” foi, na verdade, o grande bloco do carnaval maranhense, cuja extinção ainda hoje muitos lamentam. Mas os dias são outros e São Luís já não comporta blocos como o “Vira– Lata”.
 Parece que sua maior dedicação foi com o carnaval de rua?
Vera Cruz
Sim. Embora as apresentações do ‘Vira –Lata” fosse nos clubes da cidade, minha maior participação foi nos carnavais de rua. Mas foi por minha iniciativa que se realizou em São Luís um grande baile do Teatro, por ocasião dos 25 anos comemorativos da existência do ‘Vira–Lata’. Esse baile contou com a ajuda da Prefeitura da Cidade, na época dirigida pelo Dr. José Burnett, que deu respaldo a promoção e contribuiu decisivamente para o brilhantismo daquela festa inesquecível. O nosso teatro, com a sua imponência arquitetônica, com a bela decoração que recebeu, dava a impressão de que se estava num baile de gala do Municipal, no Rio de janeiro. Essa festa foi promovida em beneficio das obras sociais da ADAPI (Associação de Assistência e Proteção a Infância).
 Qual o motivo da decoração do Teatro?
Vera Cruz
Era um circo. Todos os participantes do baile se vestiram de modo a compor o ambiente de um grande e alegre circo.
 Voltando aos blocos: qual o ponto de destaque deles?
 Vera Cruz
O ponto maior dos blocos era como é natural, sua apresentação com sua bela fantasia e nós cantávamos nossas próprias musicas, pois o bloco tinha seus músicos, seus compositores. Esse bloco conquistou quase todos os prêmios de concursos de que participou. Por isso terminou passando a uma categoria especial de concorrente. Já recebia prêmios independentemente de participação nos concursos.
 Havia alguma instituição que patrocinasse os prêmios?
Vera Cruz
A prefeitura, através de uma comissão, classificava os blocos, as escolas de samba, os grupos de tambor de crioula, como se faz hoje em dia. Nesse particular não houve muitas modificações. Isto de um certo tempo para cá, por antes, a consagração era feita pelos aplausos do povo.
 De qual carnaval falaria hoje com particular ênfase?
 Vera Cru
O carnaval do Jubileu de Prata do ‘Vira –Lata’, com o grande baile do Teatro Arthur Azevedo. O ‘vira –Lata’ era, na verdade, uma grande família.
Ainda hoje o senhor participa do carnaval?
 Vera Cruz
Participo, sim. Hoje, como há muitos anos, eu marco presença no sábado de carnaval, vestido de mulher. No Lítero é sempre uma atração a minha presença, sendo o ponto alto quando desfilo vestido de debutante. Outras vezes que apresentei trajado de portuguesa, com roupas adquiridas em Portugal. Certa ocasião inovei bastante e lá apareci vestido de Chacrinha.
Suas brincadeiras são particulares?
 Vera Cruz
Sim, só da minha família, como por exemplo, há cerca de três anos, quando me apresentei como “pé-de-pano”. Eu estava simplesmente com os pés enrolados em panos, o que provocou uma verdadeira ovação no Lítero. No carnaval conta muito a criatividade e o espírito de verdadeira alegria. Com as minhas coisas, sem preocupação de exibicionismo, se pode brincar e ser atração até mais do que certos carnavalescos de hoje em dia. O carnaval deve ser atual. Com um estalo se prepara um bom carnaval. Basta inventar, se jogar muito para ter uma boa brincadeira.

Henrique Machado

Nota da Casa do Bloco
A entrevista acima colocada pelo colaborador Henrique Machado é parte integrante da monografia apresentada ao Curso de especialização em História do Maranhão da Universidade Estadual do Maranhão como requisito parcial para obtenção do grau de especialista, no ano 2005, de autoria da, então formanda, Ilma da Silva Araújo intitulada  “O CARNAVAL DE RUA EM SÃO LUÍS: TRANSFORMAÇÃO E FORMA DE EXPRESSÃO (1950 A 1970)” – pag. 36.
A Casa do Bloco Tradicional tentou localizar o Suplemento Cultural do Sioge. 1994, citada na monografia e na apresentação de Henrique Machado, sem logramos êxito.
Ainda com intuito de validarmos as informações contidas na entrevista, mantivemos contatos com brincantes dos blocos (já extintos) mencionados na entrevista como forma de validarmos as informações e, para nosso espanto, algumas colocações do entrevistado foram contestadas.
Decidimos, mesmo sem termos condições de validar as informações contidas na entrevista, publicar na íntegra como nos foi enviado pelo colaborador e como está alocada na monografia por se tratar de assunto de relevância na história dos blocos de ritmo (hoje tradicionais).
Estamos tentando contatar a autora para que autorize a publicação da monografia em nosso blog.

Ubiratan Teixeira Filho
Editor do Blog

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