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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

04.04.002

CBT – Sala Vovô Criança – Galeria da Fama

Walmir de Moraes Correa






Dia 27 de junho de 2010 o mundo do Bloco Tradicionall perdeu seu Walmir, um dos maiores mestres das artes populares. O Maranhão perdia um de seus mais brilhantes mestres. A arte perdia um de seus mais expressivos representantes e o céu ganhava um de seus mais amados filhos.
Mestre Walmir (Seu Walmir) faleceu aos 69 anos. Nasceu e cresceu aprendendo o gosto pelas artes populares, pelas brincadeiras e pelo folclore, pelos brinquedos artesanais, pelos jogos em grupo. Seus olhos contemplavam os azulejos de casarões e a beleza dos telhados vermelhos, mas também das pedras de cantaria. Vislumbravam o azul do céu e o brilho das estrelas, mas também o balançar das palmeiras ao vento, o fulgor das águas do mar e o calor da Mãe Terra.
Sempre foi tido como referência de ser humano, amigo, companheiro, esposo, pai, filho, irmão. A alegria sempre foi a sua tônica, sendo lembrado sempre lembrado pelo delicioso sorriso estampado nos lábios.
Seu Walmir estudou nos colégios Justo Jansen e Antonio Almeida (hoje, Sotero dos Reis), ambos bem próximos a sua residência, a tradicional casa n.º 329 da Rua Cândido Ribeiro (também conhecida como Rua da Madre Deus e Rua das Crioulas), no centro da cidade. De lá, formou-se na Escola Técnica Federal do Maranhão,  no Monte Castelo. Por onde passou, sempre alcançou as notas máximas, formando-se com louvor. Semeou alegria e felicidade, colheu grandes e múltiplas amizades, deixou obra sólida e consistente em terreno rico e fecundo.
Morava com o pai Hermiro (funcionário público do Tesouro, natural de Viana), Dona Maria de Lourdes (famosa costureira nascida em S. Luís) e o irmão Waldete Moraes Corrêa (que enveredava nos campo da Eletrônica e do Radialismo, sendo repórter policial da Rádio Timbira). Com a morte prematura de seu pai, teve que se esforçar ainda mais para sustento de sua família. Período de grandes provações enfrentou, sem ter o que comer algumas vezes, senão carambola com farinha. Persistiu, estudou e lutou. A alegria redobrou ao passar no concurso para professor de Mecânica, da Escola Técnica, onde permaneceu por 30 gloriosos anos.
Desportista, integrou o Riachuelo Futebol Clube, equipe amadora de futsal. Na época dos anos 50 e 60, foi um dos grandes destaques no cenário regional.
Sempre amou as artes populares, participando de feiras e blocos carnavalescos, brincadeiras de rua, “assaltos”, manifestações juninas e bailes. Tendeu mais para o carnaval, enquanto seu irmão mostrava maior interesse pelo bumba-meu-boi da Ilha.
Juntos, participaram de várias manifestações, principalmente blocos de sujo e charangaa. Nos anos 60, comandaram a Tribo Os Apaches, recordista de títulos naquele período.
De 1973 a 1976, comandaram o Bloco Os Vigaristas, na Rua do Alecrim (Centro), conquistando diversos títulos. Em 1976, fundaram o Bloco Tradicional Os Foliões, com a ajuda dos jovens amigos de longos anos (todos moradores da Cândido Ribeiro), Carlos Augusto Soeiro Gomes, Fernando Lima de Sá Vale e Mauro Sérgio Guimarães Machado.
De suas mãos, surgiram brinquedos, artefatos, invenções, maquetes, miniaturas e delicados instrumentos de percussão. Planejou, montou e tocou os grandes e famosos contratempos, tambores dos blocos tradicionais de ritmo (sua grande paixão), além de surdos, pandeirões, reco-recos, cabaças, entre outros.
Vale lembrar que os primeiros tambores do Bicho Terra levaram a marca de Seu Walmir. Seus instrumentos foram expostos no Rio de Janeiro e mesmo outros países.
Compôs sambas para blocos de ritmo, marchinhas e poemas para serem recitados à luz do luar. Representou o Maranhão em importantes cursos, encontros e festivais pelo Brasil e pelo mundo.
Assinou, com o filho William, a produção dos primeiros LPs, CDs e vídeos de blocos tradicionais do Maranhão, registrando os trabalhos do Bloco mais premiado do carnaval maranhense. Bloco que viria a se tornar uma das fortes entidades socioculturais do Estado.
Teve a honra de ser o primeiro dirigente carnavalesco a levar um bloco tradicional para apresentações fora do período carnavalesco, além de viajar pelo Brasil e exterior. Com os pés no chão, disciplina, seriedade e carinho, foi galgando inéditas vitórias, assinando com maestria seu nome na história da cultura maranhense.
Teve o prazer de hastear as bandeiras maranhense e brasileira em festivais e eventos pelas Américas e Europa. Percorreu o Brasil de Norte a Sul. Teve poemas publicados, músicas gravadas, participação em programas de rede nacional.
Integrou a Associação Maranhense de Blocos Tradicionais e a Liga Independente de Blocos Tradicionais. Dirigente-fundador da Academia Maranhense de Blocos Tradicionais, a qual integrava com muito carinho, chegando a emprestar sua residência para reuniões da entidade.
Uma vida dedicada ao ensino e às artes populares. Dentro da cultura, fez questão de ensinar crianças, jovens e adultos a amar a riqueza de nossas manifestações e a importância da cidadania.
Assinou, junto com o filho William e a filha Wilna, diversos e importantes projetos. Além de viagens nacionais e internacionais, e muitos títulos em desfiles de passarela, concursos carnavalescos e troféus Imprensa, arrabatou os postos de ponto de cultura, pontinho de cultura e ponto de leitura, chegando a ser contemplado com oito prêmios do Ministério da Cultura no intervalo de um ano e meio, recorde nacional absoluto.
Em vida, recebeu diversas comendas culturais, particulares do Poder Público. Seu nome batizou certames culturais, como o Prêmio Walmir Moraes Corrêa de Literatura Infanto-juvenil, o Troféu Walmir Moraes Corrêa e o Prêmio Cultura Popular.
O Bloco Os Foliões fará diversas homenagens a seu presidente-fundador, mas não vai parar aí. Doravante, seu nome será citado constantemente, não apenas no bloco de ritmo, mas em todas as ações das extensões que hoje integram Os Foliões durante o ano inteiro. Será, inclusive, o nome de um espaço dedicado a ações artísticas, um dos futuros projetos da entidade.
Seu Walmir sempre superou os mais diversos obstáculos, sempre encarou e venceu os mais complicados desafios com simplicidade, humildade, determinação e muito amor à vida. Louvava sempre o nome DEUS e de Jesus em todos os seus momentos, fazendo questão de explicitar o amor à Virgem Maria. Todos os anos, ia a Belém para a festa do Círio de Nazaré, agradecer a uma promessa de recuperação da saúde de sua esposa, Dona Aldenora.
Somente não conseguiu vencer o câncer, uma vez que a Suprema Consciência o chamava. Um mês e sete dias lutando contra a doença. Encantou-se de forma lúcida e majestosa, despedindo-se de seus familiares e amigos e partindo em paz e sorrindo para os braços do Criador.
Na noite de sua partida, todos os arraias de São Luís pararam e o homenagearam. Grupos artísticos (como o Pirilampo) saíram direto de suas apresentações para o velório. A despedida, no Vinhais, foi muito, muito uto emocionante, com os presentes cantando as canções dele e sambas imortais dos Foliões. Muito foi dito. Ainda há muito por dizer e por fazer. Seu Walmir foi sepultado sob a justa homenagem das bandeiras do Maranhão e do Brasil.
A obra continua e os Foliões agora têm um anjo especial a guiar e iluminar seus caminhos, ações e vitórias. Do alto, seu Walmir estará orientando os entes queridos, que darão continuidade à missão. Seja nas ruas, na passarela, nos arraiais, festejos natalinos, nas oficinas, no teatro, nas salas e leitura. Onde uma criança e um jovem puderem estar aprendendo e se aproximando de um mundo melhor, ele estará feliz, participando.
Homens como meu pai não morrem. Deixam obras valiosas que irão ajudar centenas, milhares de almas pulsantes, e seguem pelos incontáveis mistérios da vida, sempre sorrindo, amando, vivendo.


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